Como podemos corrigir o déficit de leitos psiquiátricos em psiquiatria?

Como podemos corrigir o déficit de leitos de internamento em psiquiatria? 


Hoje, dia 25 de setembro de 2019, temos na regulação estadual de saúde mental do Paraná 643 pacientes aguardando leitos em psiquiatria. Quais são os fatores determinantes desse quadro?
Como corrigi-lo ?
A possível correção não se baseia exclusivamente em aumento do número de leitos. Há outros fatores igualmente importantes nessa equação.
Um importante fator, perceptível através da análise das regulações, é a baixa resolutividade da psiquiatria ambulatorial.
Temos hoje grande demanda de pacientes solicitantes de vaga cuja doença de base não é grave porém não foi adequadamente diagnosticada e tratada em nenhum momento da história de vida dos pacientes, em nenhuma ferramenta de atenção a saúde pública. As unidades básicas não tem apoio de psiquiatra e os CAPS, única ferramenta disponível na psiquiatria SUS nesse momento, não tem condição técnica, muitas vezes por déficit de profissionais qualificados. Assim, temos muito baixa resolutividade no tratamento de doenças psiquiátricas de média complexidade. Em um CAPS mais resolutivo seria possível termos metade do número de pedidos de internação atuais.
Há ainda a situação da perda de adesão ao tratamento dos pacientes que recebem alta do CAPS, devido a inexistência de ambulatórios de psiquiatria.
A função do ambulatório é manter o paciente bem e em funcionalidade social. Inexistindo este, a tendência natural é o paciente nunca ter alta do CAPS. Por isso é comum vermos pacientes em tratamentos nos caps há mais de 5 anos, muitos há mais de dez anos, com tratamentos "ad eternum"
Piorando a situação temos a questão previdenciária: Na lógica do INSS o paciente em tratamento em CAPS é grave e merece auxílio doença. Consequentemente muitas vezes temos pacientes dentro de caps que seriam ativos, funcionais e não onerariam o estado, caso estivessem em tratamento ambulatorial, mas se mantém na prática institucionalizados e "aposentados".
Atualmente vivemos um processo de institucionalização dos pacientes, como ocorreu no passado. Mudou-se apenas a instituição: de hospital psiquiátrico a CAPS. Necessitamos urgentemente de unidades psiquiátricas em hospital geral , com curto período de internação, e de ambulatórios, além da tão falada adequação no número de leitos disponíveis.
Ricardo Assme
Psiquiatra

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